Ainda que eu não seja uma mineira oficial, tendo apenas herdado as raízes, os costumes e o sangue de uma família de Minas Gerais, sinto que esse lugar da confiança desconfiada paira integralmente pela minha vida. O malabarismo mental de você se jogar e, ao mesmo tempo, manter um pé atrás é digno de nota, o que ainda é acentuado pelo meu mapa astral, que tem umas boas doses de Capricórnio e Sagitário convivendo nada pacificamente.
Admiro com fervor pessoas verdadeiramente otimistas, esperançosas, que, de um tropeço, conseguem fazer um passo de dança (como escreveu o também mineiro Fernando Sabino). E a admiração começou a surgir quando percebi que o pessimismo talvez gaste mais energia do que tentar encarar as partes boas dos acontecimentos. Meu modus operandi é esgotar as análises sob uma lente ceticista e prever todas as merdas que podem acontecer, caso tudo dê errado. E aí, em um desses programas de variedades na Netflix, ouvi que o cérebro não consegue separar o é projeção da nossa mente e o que realmente acontece. Então, cada vez que você arquiteta um acontecimento ruim, o cérebro identifica que isso realmente está acontecendo contigo ali naquele momento.
Não foi a primeira vez que ouvi isso.
Como uma absoluta leiga no assunto, eu enxergo essas curiosidades sobre a nossa mente com muita atenção. Somos universos infinitos de descobertas e estamos longe de decifrar completamente o cérebro humano (ainda bem?), mas creio que o pouco que a ciência descobriu pode, sim, nos ajudar a levar uma vida mais leve. Comecei o ano de 2023 sentindo que esse será um período muito bom pra mim, mas, desconfiada que sou, não tiro da cabeça que algo ruim certamente vai tirar o sorrisinho do meu rosto e me trazer de volta pro chão. Construindo cenários de desastres possíveis durante o meu ano — a morte de alguém, uma desilusão amorosa, uma demissão, uma humilhação em praça pública, um acidente catastrófico, e isso para dizer apenas alguns —, entendi, mais uma vez, que é impossível prever qualquer coisa. A mente ansiosa é extremamente engenhosa e criativa, percorrendo espaços e labirintos dos mais complexos, deixando qualquer um espantado com a sua habilidade.
E eu, que não sou de fazer tantas metas pra um novo ano, decidi me colocar o desafio de ser mais otimista em 2023. De realmente tentar encarar os acontecimentos como um passo a mais em direção da pessoa que quero me tornar, de entender que tudo, tudo, é um aprendizado, e de que, sim, eu posso seguir com a minha vida apesar dos tropeços. Achei que o fim do mundo ocorreria tantas vezes, e não só sobrevivi como aprendi ainda mais sobre mim mesma. Entendi que me fechar para evitar conflitos, tristezas, julgamentos, é uma maneira também de me fechar para a vida. Lembro que, uma vez, minha antiga psicóloga disse: “claro, você se enclausurar é uma maneira de evitar que as pessoas te odeiem, mas também de evitar que as pessoas possam te amar por quem você é”.
Verbalizar, com frequência, de que 2023 vai ser um bom ano é uma maneira de me convencer, em voz alta, de que tudo vai ficar bem, mesmo que não fique. Que momentos de alegria existem e que, chegar até eles, também depende muito do meu próprio esforço. Além de boa dose de confiança no universo para me colocar no lugar certo e na hora certa, existe a parcela do desejo interno de fazer valer o tempo ocupado nessa terra, de fazer a minha própria felicidade, independente de como ela seja ou das ferramentas que tenho no momento. Decidi ouvir essa parte da minha cabeça que diz que, sim, 2023 vai ser um bom ano e eu vou dançar incluindo os tropeços nos meus passos. Não sei se Sabino ficaria orgulhoso de mim, mas eu vou ficar sim.
Um bom ano para nós, com muitos copos meio cheios. <3
Nossa, Gabi. Me identifiquei de-mais com esse seu texto! Antever cenários catastróficos, na intenção de melhor nos prepararmos para eles, acaba que nos faz perder, muitas vezes, a boa e velha "alegria de viver". A gente vai endurecendo e não se permitindo simplesmente gozar os momentos, um eterno carregar pianos... Eu, assim como você, prometi tentar viver mais leve em 2023. Nem sempre é fácil (quase nunca, hehe), mas vamos tentando!
O otimismo apocalípticoE preciso saber navegar no sambeiro ou banzeiro parte perigosa, turbulência, do rio Amazonas e necessitamos resgatar a ancestralidade reunião dos saberes de diversas culturas e comunidades, e descartar a ética da competição de fundamento patriarcal, e repensar uma herança matriarcal, a ética do cuidado, da colaboração, da cooperação, da responsabilidade, competência e confiança, desenvolvidas há milênios e que tem mantido coesão dos grupos sociais de cultura muito rica.