Ainda sei escrever uma newsletter? Fica aí a dúvida. Nosso último encontro aconteceu em maio e, sinceramente, nem faz tanto tempo assim, parece muito mais. Desde aquele momento, entrei num período meio complicado com os meus horários, numa vontade absurda de não fazer nada e apenas tentar existir. Mas aí bate a saudade de escrever e, mesmo sem saber muito bem sobre o quê, a gente abre os rascunhos e tenta. Ensaiei várias vezes falar sobre algo, mas o assunto nunca parecia interessante o suficiente para clicar no botão Enviar. Então, fiquei só na vontade mesmo.
Também de uns meses pra cá, tenho refletido mais sobre meu “eu” online. Não que ele seja muito diferente do offline, mas ele me demanda um bocado de empenho, energia, estratégia e lapidação. Enquanto o offline consegue existir no automático, trabalhando 8h por dia, se alimentando, arrumando a casa e fazendo as compras da semana, o online não funciona muito bem dessa forma. Não pretendo fazer uma resenha meio jogada de um livro ou mangá que acabei de ler. Não quero tirar qualquer foto pra ilustrar. Não quero postar e esquecer de voltar para responder aos comentários. Não é minha intenção fazer as coisas de qualquer jeito. E talvez pensar tanto tenha sido um dos motivos pelos quais tudo anda embargado.
Do lado de cá, sigo assistindo aos animes, aos dramas coreanos, aos realities asiáticos, lendo meus livros e consumindo conteúdo vindo do outro lado do mundo. Mas nunca consigo, seja da forma que for, expressar todas as coisas que venho aprendendo com todos eles. Acho que li em algum lugar que a escrita é um músculo que precisa ser constantemente exercitado — assim como a leitura. Quando você para por algum tempo, só consegue retomar ao ritmo anterior com bastante paciência e prática. E eu acho que é por algo assim que venho passando. Esqueci como escrever uma newsletter. Esqueci como se faz uma resenha.
Um pouco dessa pausa na produção de conteúdo, para além de todo o esforço desempenhado que comentei antes, se deve também à uma espécie de preguiça no formato que as mídias estão tomando, por mais que eu consuma bastante vídeo no meu dia a dia, não sei se sou uma pessoa de produzir coisas audiovisuais. Eu cresci com texto. Gosto muito de escrever as minhas amenidades, e sinto falta delas. Mas me sinto impotente quando percebo que o texto não é o bastante. Ele parece ser apenas um apoio para elementos visuais e sonoros. A produção de conteúdo hoje é assim.
Ao mesmo tempo, tem muita gente falando demais o tempo todo. Sempre aparece alguém com uma opinião definitiva sobre algo, endeusando ou demonizando qualquer coisa, pautando o assunto do dia no Xuitter. Eu não funciono nessa velocidade, não consigo (e nem quero) escrever três parágrafos sobre algo que acabou de acontecer. Talvez eu tivesse energia 10 anos atrás, hoje não mais. Assim, eu venho me desencantando como produtora de conteúdo, porque não sinto que me encaixo nos moldes que funcionam atualmente.
Isso não parece motivo o suficiente para não querer produzir mais, mas é. A máxima melhor qualidade do que quantidade é real, mas, na prática, a teoria é outra. Quem, como eu, acompanhou todas as mudanças nesse grande mundo da internet desde o começo está de saco cheio e cansado de existir online nos moldes que as mídias de hoje exigem. Atualmente, nem acho correto chamarmos de “redes sociais” como fazíamos antes, porque o social tá cada vez se esvaindo nessas relações que criamos no digital.
É um cansaço generalizado, uma dificuldade de adequação e uma sensação péssima de estarmos falando com as paredes. Para quem estou falando? Para quê? Não é de agora que muitos questionamentos rondam a minha cabeça e, tenho certeza, de mais uma galera que já produziu para a internet. São anos e anos de mudanças, de perda de controle, de estar à deriva nesse mar de CEOs que decidem fazer o que bem entendem com as mídias que eles compram. Esses caras bilionários que lucram tudo às nossas custas e que pagam um total de zero centavos pelo conteúdo que produzimos e que mantêm as redes que eles gerenciam.
Não sei bem o que vai acontecer daqui pra frente, mas confesso que ando ansiosa pra saber como as novas gerações vão lidar com tudo isso. A ironia é que eu trabalho como coodernadora de mídias digitais, e o que eu mais quero atualmente é que elas explodam. Porque é insustentável o formato que elas existem agora. Muita gente, pouco incentivo, zero alcance e nenhuma regulamentação. O caminho de acabar com a ideia de que a internet é terra de ninguém está sendo percorrido a passos de formiga.
Enquanto antes eu usava o online como uma fuga do offline, hoje eu tenho usado o offline como uma fuga do online. E a minha saúde mental tem agradecido muito, porque pouco se diz sobre a banalidade de viver a sua vida sem registrar qualquer mínimo passo, de arrumar a sua casa sem ter uma câmera apontada pra você, de passar dias e dias sem que os outros saibam o que você anda fazendo. A realidade é que ninguém se importa. Ninguém vai ler o seu texto, ninguém quer saber o resultado do quiz que você fez. Tá todo mundo querendo falar, falar, falar e pouca gente querendo ouvir. Nessa percepção, eu tenho preferido exercitar mais o músculo da escuta do que da escrita.
Tudo isso foi um grande desabafo que eu precisava fazer — por mim, sabe? E, no final das contas, depois de ter gastado todo o meu português, vou lá assistir ao novo episódio de Jujutsu Kaisen que saiu essa semana. Tenho encontrado o prazer nessas pequenas coisas da vida offline.
eita que eu me identifiquei demaaaaaais, eu e muita gente, tenho certeza. logo logo vamos criar certa aversão a tudo isso, estamos caminhando pra esse lugar. Pra mim tem sido cada vez mais deisistimulante produzir conteudo... dá cá um abraço apertado pra eu te retribuir o abraço que vc me deu com o esse texto! <3
Estou cada dia mais focada nas atividades offline!
Tenho desejado um relógio que comporte mp3 para sair e ir para academia, correr, sem levar o celular tbm . Super me lembrei do mp4 player hahah